SAMBA
Das raízes afro-brasileiras ao interior do RS: o samba de Frederico Westphalen
O samba é um gênero musical que surgiu no Rio de Janeiro no começo do século XX e representa uma das principais influências da cultura africana no Brasil. Seu surgimento está associado aos encontros de afro-brasileiros que se reuniam para celebrar sua cultura e realizar rituais religiosos. A popularização do samba ocorreu, em grande parte, por meio dos desfiles das escolas de samba, que ganharam força no Carnaval carioca, e pela difusão da rádio no Brasil, que tornou o gênero acessível a um público mais amplo.
Apesar de nunca ter deixado completamente as rádios ou o topo das paradas nas plataformas de streaming, o samba ainda enfrenta preconceito por ser associado historicamente às comunidades negras e periféricas. Por isso, é uma surpresa conhecer Davi Dalberto, integrante do grupo Sambâe, em Frederico Westphalen, cidade do interior gaúcho, onde o samba é menos comum.
Do rock ao samba: a trajetória musical de Dalberto
Dalberto é integrante do grupo Sambâe há um ano, mas o samba não foi seu primeiro amor. O músico e professor de biologia do Instituto Federal de Frederico Westphalen conta que começou a se apaixonar por música na adolescência, tendo o rock como primeiro amor. Influenciado pelas bandas que admirava, começou a tocar violão e contrabaixo. Aos 18 anos, passou a trabalhar em bares e restaurantes como freelancer, mas seu sonho era montar uma banda. No entanto, foi desapegando do sonho rockeiro ao perceber que esse gênero não era valorizado pelos contratantes e que os custos com instrumentos musicais eram altos demais.
Quando entrou no mestrado, Dalberto desistiu da música como profissão, mas nunca perdeu o encanto pela expressão artística. Com o tempo, foi dando espaço para outros ritmos musicais. “Sempre apreciei música boa, independente do estilo”, ele complementa. Em 2023, Dalberto volta a cogitar subir em um palco, quando um amigo o convidou para participar do grupo de samba raiz Sambâe. No início estava relutante, achando que poderia ter perdido o jeito, mas acabou aceitando a proposta.
Sambâe: hobby ou profissão?
O início das apresentações do grupo Sambâe ocorreu de forma despretensiosa, como uma brincadeira entre amigos que se reuniam para tocar pagode. A aceitação do público foi positiva e, em determinado momento, o dono de um bar decidiu contratá-los. Contudo, o músico explica que há uma sazonalidade nas apresentações: durante o inverno, a demanda diminui consideravelmente, enquanto na primavera e no verão as contratações aumentam. Nessa época, o grupo costuma tocar, em média, quatro vezes por mês, geralmente nos fins de semana. Em alguns casos, chegam a realizar duas apresentações em um mesmo fim de semana, enquanto em outros não se apresentam. Já no inverno, a média cai para cerca de duas apresentações por mês.
O músico destaca que a docência é sua profissão e que, embora a música também seja um trabalho, não pode ser considerada um emprego. Isso se deve aos valores praticados no mercado em que ele atua, principalmente em bares, restaurantes e alguns eventos particulares, que não permitem uma renda fixa ou estável.
Davi observa que tanto o samba quanto o rock enfrentam desafios semelhantes na cidade. Ambos são tratados como segunda ou terceira opção pelos contratantes locais, que preferem sempre duplas sertanejas. “É difícil a gente ficar um mês todo parado, mas para sobreviver disso, é bem difícil”, comenta.

Vídeo: Thayssa Kruger
O Futuro do Grupo
Sobre o futuro do grupo, Dalberto relata que, apesar de estarem com planos de se apresentar com mais frequência, não possuem o desejo de crescer muito na música ou de torná-la sua principal fonte de renda.
O mercado de músicas autorais é descrito pelo professor e músico como desafiador e exigente, e Davi Dalberto, Alexandre Neto, Humberto Mamfrim, Oleandro da Rosa e Ricardo Giovenardi não se dispõem a arriscar no mercado autoral. Ele explica que a escolha por trabalhar com músicas autorais geralmente ocorre por dois motivos: a necessidade de expressar uma arte pessoal que sente estar reprimida ou o desejo de crescer na carreira musical. Mas o grupo está feliz do jeito que está.