CORAL

Canto Coral: tradição, arte e comunidade
Foto: Gabrieli Ferla
O Coral é um dos gêneros musicais mais antigos de que se tem conhecimento. Há registro de que ele existe, pelo menos, desde a Grécia Antiga, onde desempenhava um papel importante em diversas funções sociais. Não tinha caráter exclusivamente religioso, integrando também festas populares. Passou a ganhar um cunho religioso em Roma, quando o imperador Constantino se converteu ao cristianismo. Nesse contexto, o coral adquiriu uma nova perspectiva, que foi se transformando ao longo dos anos.
No Brasil, o canto coral chegou com influências europeias, especialmente durante o período da colonização. No entanto, só passou a ser estudado e ensinado formalmente em 1936, com a fundação do Coral Paulistano, hoje nomeado em homenagem ao seu fundador, Mário de Andrade. O objetivo de Andrade era unir a arte erudita com uma estética nacionalista, deixando de lado, em parte, as influências europeias para criar algo que representasse o país. O Coral Paulistano continua se apresentando regularmente, tendo como sede o Theatro Municipal de São Paulo. Essa iniciativa contribuiu para que o gênero coral ganhasse mais popularidade no Brasil, se afastando de sua associação exclusiva com o contexto religioso e se reafirmando como expressão artística.
Atualmente, os corais estão presentes em escolas, igrejas e comunidades, ampliando o acesso à música para diferentes faixas etárias. Em Frederico Westphalen, o coral mais conhecido é o Coral da URI, fundado em 1995. Com 35 alunos voluntários, esse coral é amplamente reconhecido pela organização e acolhimento que oferece à comunidade frederiquense.
De aluno a regente: a conexão de Jean Horas com o Coral da URI
O Coral da URI foi um dos pioneiros do gênero em Frederico Westphalen, iniciando suas atividades em 1995 e completando 30 anos em 2025. Por coincidência, ou não, Jean Horas, atual regente do coral, possui a mesma idade do grupo. Horas começou a se interessar por música ainda na infância, aos 8 anos, quando fazia aulas de flauta doce no contraturno da escola. Seu pai, ao perceber essa vocação, o incentivou a aprender teclado na escola de música Sol Maior, com a professora Fernanda de Geroni (instituição que não existe mais). Mais tarde, ele também aprendeu a tocar violão com o professor Sérgio Mazzonetto, e foi através dele que começou a integrar corais na região oeste de Santa Catarina e noroeste do Rio Grande do Sul, incluindo o Coral da URI, onde estudava na época. "Eu gostava de acompanhá-lo, e nisso eu pensei que poderia também ser a minha profissão", relembra Horas.
No entanto, ao concluir o ensino médio, Horas optou por cursar Ciências Contábeis, já que o curso de Música mais próximo ficava em Passo Fundo, e nem ele nem sua família tinham condições financeiras de realizar essa mudança. Após se formar, ele conseguiu realizar seu sonho de estudar música na Universidade Federal de Passo Fundo, onde também concluiu um mestrado em Educação em 2021. Além disso, em 2020, completou uma especialização em Regência Coral pela Universidade Federal da Bahia. Toda a trajetória musical de Horas o levava ao canto coral. "Eu sempre quis ser regente coral. Desde que comecei a trabalhar com música, sempre desejei essa área", afirma.
Horas foi convidado para reger o Coral da URI após o professor Artemio Tibola, regente por 28 anos, decidir deixar o grupo para se dedicar à família. Ele se sentiu lisonjeado com o convite, considerando simbólico reger o coral que tanto o influenciou a seguir essa carreira. No entanto, esse não é o único coral sob sua direção: atualmente, Horas rege cerca de seis corais, incluindo o Coral da URI. Ele também é concursado em Chapecó, onde trabalha com o Coro da Orquestra Sinfônica de Chapecó. Apesar de sua rotina intensa e dos constantes deslocamentos, ele ainda encontra tempo para cursar doutorado em Educação na URI/FW. "Eu acho que cheguei a um lugar onde sempre quis estar", conclui o músico.
Mais que Música, uma Construção de Comunidade
De acordo com Rita Fucci Amato, em seu artigo "O canto coral como prática sócio-cultural e educativo-musical" (2007), os corais exploram diversas dimensões musicais, educacionais e sociais. Eles funcionam como uma ferramenta de inclusão social e integração interpessoal, que incentiva valores como solidariedade, disciplina e cooperação. Além disso, rompem barreiras econômicas e culturais, enquanto promovem a valorização da cultura e da arte.
“A cidade se encontra no canto coral. Então, eu acho que esse senso de comunidade, esse pertencer ao canto coral é algo que deixa a gente cada vez mais forte”, observa Horas. Ao contrário dos gêneros musicais comerciais, que vivem em uma eterna disputa por espaço em eventos, rádios, posições em streamings, etc., a prática do canto coral envolve não apenas o trabalho técnico e disciplinado nos ensaios, mas também a criação de um ambiente de união, diversão e senso de pertencimento. Essa atividade proporciona um espaço em que pessoas de diferentes idades, condições financeiras e profissões se reúnem para compartilharem o gosto pela música e pela convivência coletiva.
![]() | ![]() | ![]() | ![]() |
---|---|---|---|
![]() | ![]() | ![]() |
Expressão e Movimento
A música, presente desde os primórdios da humanidade, é uma parte essencial das manifestações culturais em todo o mundo. Ela desempenha um papel fundamental na constituição de um povo e esteve presente em momentos marcantes da história política de diversas nações. “Eu vejo que a música é movimento, a música é expressão, a música é manifestação”, complementa Horas.
O regente relata que trabalhar com arte é significativo, especialmente em um contexto de desvalorização dessa área, que muitas vezes ocorre porque a arte estimula a reflexão crítica, algo que pode ser desencorajado por aqueles que não a valorizam. Ele completa dizendo que contribuir através da música para a formação de novos cidadãos é um ato transformador, pois não está apenas ajudando as pessoas a melhorarem sua performance vocal ou a apreciar a música, mas também reconhecendo a importância do canto coral como parte essencial da cultura. “Para mim é uma honra poder, nos dias de hoje, trabalhar e viver da música”, relata Horas.
Os ensaios do Coral da URI acontecem semanalmente, todas as segundas-feiras, das 18h30 às 20h, e são abertos ao público. Qualquer pessoa pode participar do coral, sejam professores, alunos, funcionários da universidade ou membros da comunidade em geral.